A dor lombar acomete grande parte das pessoas em algum momento de suas vidas. As causas são as mais diversas, mas geralmente devem-se a doenças sistêmicas que acabam afetando a coluna tais como artrose, reumatismo e fibromialgia, entre outras. Embora nos laudos de ressonância magnética apareçam expressões como “ hérnia de disco”, “ osteoartrose de coluna”, “protrusão discal”, “leve compressão do canal medular”, “espondilolistese”, entre outros termos que o nome por si só parece ser pior do que os sintomas que levaram o paciente a fazer os exames, a cirurgia de coluna quase nunca deve ser indicada, Devido a três razões principais: o tratamento fisioterápico, mudanças no estilo de vida e a compreensão do porquê da origem da dor por parte do paciente e seus familiares. Isso somado torna o manejo deste sintoma altamente eficaz.
Geralmente, quando o paciente chega no consultório com dor lombar crônica a primeira pergunta que os médicos fazem é “já fez fisioterapia?”, ao que o paciente responde com certo enfado no olhar “sim, mais de 30, e não adiantou quase nada” ou “ até piorou”. Muitas vezes dá-se por encerrado o tratamento conservador e o paciente, quando já possui laudo de exames realizados com um ou mais daqueles “nomes assustadores” citados acima, é encaminhado ao cirurgião de coluna, neurocirurgião ou ortopedista. Dentro deste ciclo visto rotineiramente nos consultórios, esquece-se as seguintes perguntas: “Como foi esta fisioterapia?”, “Foi individualizada com o fisioterapeuta fazendo movimentos específicos para cada grupo muscular?” “Foi realizada reabilitação postural?” ou “lhe colocaram em uma sala e fizeram os choquezinhos e o ultrassom?”. Devido à grande demanda de pacientes, principalmente nos SUS, geralmente a resposta é afirmativa somente para a última pergunta, salvo excelentes exceções. Desta forma geralmente os pacientes chegam para o cirurgião de coluna sem terem esgotado a possibilidade de tratamento somente com manejo mais conservador (não cirúrgico).
Outro fator que tem feito com que muitos pacientes acabem em um bloco cirúrgico tendo sua coluna operada é a falta de empenho de alguns pacientes em seguir as orientações médicas. Sabe-se hoje que o hábito de fumar afeta intensamente a coluna, causando a desidratação dos discos lombares entre outros males. O excesso de peso e a falta de atividade física regular também contribuem para a recorrência das dores na coluna. Má postura no trabalho é outro fator que impede a melhora dos sintomas.
Finalmente, talvez ainda mais importante que todos estes fatores somados seja a falta de entendimento das razões para se submeter a uma cirurgia de coluna. Geralmente são indicações precisas de cirurgia uma hérnia discal lombar que esteja causando uma dor intensa no membro inferior de mesmo lado da hérnia discal e com correlação com o nervo afetado por esta e que além da dor esteja causando perda de força neste membro. Somente a presença de uma hérnia de disco não é indicativo de cirurgia, na verdade, raras são as hérnias de disco lombar que necessitam ser operadas. Casos nos quais ambas as pernas percam subitamente as forças durante várias ocasiões (dá-se o nome de claudicação neurológica) e o paciente tenha associado um exame com diagnostico de espondilolistese ou canal lombar estreito, pode-se considerar cirurgia. Mesmo com a imensa maioria dos pacientes com dor lombar não necessitando cirurgia, existem ainda várias indicações precisas para cirurgia, sempre seguindo a máxima de concordar o sintoma e o exame físico do paciente com os exames de imagem. Uma das maiores causas de fracasso terapêutico após cirurgia para tratar dor lombar deve-se as falsas expectativas que muitos pacientes criam por não conhecerem ou não terem sido alertados por seus cirurgiões do que realmente esperar após uma cirurgia de coluna. A cirurgia geralmente é uma tentativa de evitar que um sintoma neurológico piore e não erradicar totalmente a dor lombar. Meses após a cirurgia geralmente está retorna. O paciente deve estar alertado sobre isso, pois somente assim ele poderá discutir melhor com seu cirurgião e seu clínico (reumatologista, médico da dor ou neurologista) o que realmente esperar de uma cirurgia na coluna.